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OS FESTEJOS DO SÃO JOÃO

Embora os festejos sanjoaninos sejam considerados as festas oficiais da cidade também não é descabido dizer-se que também o são da freguesia de S. Lázaro.

É certo que a confraria de S. João está sediada na igreja de S. João de Souto e que a grande procissão organizada pela confraria não passa em nenhuma artéria da freguesia.

Mas o S. João tem uma fortíssima componente, cada vez mais importante, de festa pública. E essa festa pública é toda feita em território de S. Lázaro: avenida da Liberdade, Parque da Ponte, rio Este e avenida Central. Mesmo do ponto de vista religioso poderemos dizer que o principal templo visitado é a capela de S. João da Ponte, onde, não esqueçamos, se guarda a importante imagem de S. Cristóvão com o menino (antigamente muito procurada por todos os que sofriam de fastio); e que é no rio Este que se reconstitui a representação do Baptismo de Cristo e a Travessia do Jordão.

A organização dos festejos, contudo, tem pertencido às mais diversas forças da cidade: nos finais do século XIX foi a Associação Comercial que aceitou esta incumbência; após a República eram grupos de cidadãos ligados aos mais diversos organismos públicos, na maior parte das vezes coordenados pela Associação Comercial, mas com o apoio económico da Câmara Municipal; de 1964 a 1975 foram inteiramente organizados por aquela associação a pedido da edilidade. E a partir desta data por uma comissão de festas sediada no edifício do Turismo.

Do ponto de vista histórico todos os relatos são também concordes que a festa pagã se fazia além rio Este, em terrenos então pertencentes ao Arcebispo e hoje ocupados pelo Parque da Ponte.

Num manuscrito, que apenas Camilo Castelo Branco viu, contava-se que todos os anos era largado um porco preto no monte Picoto na madrugada de S. João. Os nobres da cidade, a cavalo, perseguiam-no até à ponte do rio Este; do lado contrário esperavam-no os moleiros que lhe barravam o caminho de fuga. Se o porco se decidia a passar a ponte ficava propriedade dos moleiros; caso não, passava a ser pertença dos cavaleiros.

Com o decorrer dos tempos foram-se perdendo muitos dos antigos costumes. Nos finais do século passado os festejos já tinham uma feição semelhante à actual; claro está que sem uma componente tão forte de divertimentos.

Algumas fotografias dos inícios do presente século mostram-nos bem que o antigo campo de Santana era então profusamente adornada com vistosas decorações iluminadas por grizetas – quem seria o José Veiga daqueles anos? -, havendo, no fim, um teatro efémero onde se apresentavam as mais variadas representações.

A avenida da Liberdade – então rua de Ágoas e rua da Ponte – eram então demasiado estreitas para receber as multidões que acorriam. Pelo que a grande festa era feita no imenso espaço livre que existia na margem esquerda do rio, sobretudo debaixo das árvores plantadas em volta da capela de S. João da Ponte. Aliás, deve ter sido por essa razão que a primeira edilidade que a cidade teve após a proclamação da República decidiu mandar construir o coreto que lá se vê. Mas, a exemplo do que acontece hoje, também se levantavam outros de madeira porque o povo que acorria era muito e um coreto não era suficiente.

Um facto curioso deve aqui ser lembrado: os festejos sanjoaninos do Porto só começaram a ganhar expressão municipal a partir de meados dos anos trinta. Temendo uma concorrência nefasta para Braga a Associação Comercial oficiou à edilidade da cidade invicta para evitar tal confronto. Mas, como a festa também era eminentemente tripeira, continuou a crescer, atingindo a dimensão que hoje tem. Deverá datar daqueles anos a quadra que todos bracarenses conhecem:

O Carnaval em Veneza / A Semana Santa em Sevilha / O São João em todo o mundo / Mas em Braga é que mais brilha